domingo, 12 de março de 2017

Para L. [ou: Des-cubra a solidaão]



a boca do horizonte se fecha lentamente
enquanto a luz se dilui sobre teus cílios
eu espero que minhas dores adormeçam
e eu possa então escutar tua respiração
calma como o vai-e-vem das ondas
posso molhar meus pés na tua existência
até sentir a sede de me afogar inteiro e nu
no mar límpido da tua vida
o amor é a luz atravessando a janela descortinada
da casa construída em nossa memória
os fantasmas agora dançam em circulo
nada pode nos assustar
talvez eles saibam um ritual que profana
o que ainda está intacto em nós
mas você desce todas as escadas e atravessa
todas as avenidas vencendo os sinais vermelhos
até rasgar a mortalha que recobre o meu peito
a boca do meu deserto se abre
esperando uma gota que escorre
dos teus lábios

abertos todos os olhos
te olham me olham
enxergando com a ponta dos dedos
des-cobrindo a minha nudez
na tua pele
para ser só
sobre
a tua solidão