terça-feira, 6 de junho de 2017

Todas as bocas


você diz meu nome sem medo 
de dentro da boca dos dentes da língua
o silencio se dilui na saliva
escutamos um uivo rompendo a mortalidade da noite
som é eco de vida entre as pernas
da mudez
uma serpente rastejando sobre a terra
não pode nos ferir: estamos imunes e salvos
transmutando a pele mudando a cor
teu olho me olha de dentro do olhar
nunca me senti tão nu no meio da noite 
nossos lábios se despiram de todos os medos 
palavra por palavra me aproximo mais
: não sei o quão profundo és mas eu
quero mergulhar
[m
e
r
g
u
lho]
quando falto em mim sou excesso escorrendo
no teu peito despido meu desejo derruba 
todos os escudos e toda a escuridão 
não é mais escura
a poucos passos um lobo quer nos devorar
mas nós acabamos de nascer
os ossos da fera se esmigalham
debaixo dos nossos pés descalços
você vê 
e ainda nem amanheceu
todas as bocas em mim se abrem
: você tem medo
da minha fome?