Foto: Hélio Beltrânio |
quero descobrir o mundo
como a mão trêmula descobre o
vazio
entre as pernas virginais não
encontro a resposta
nem homem nem mulher
eu sou deus destronado no mundo
e entronizado
num corpo marcado borrado e
barrado
quando poderei ser além do véu
que esconde
minha nudez está aqui
: reinar sobre mim
mas não preciso que estejas aos
meus pés
só precisas me deixar respingar
minha existência
no mundo meus passos pesam
minha existência ameaça a
frágil fortaleza
onde o outro se esconde
não some com o meu nome
não me consome no fio da
navalha
não me amassa como uma folha
rasurada
a palavra nasceu no meio do
vazio
das minhas pernas não pende
nenhuma âncora
eu sou livre para navegar
não preciso remar afoita
posso me inebriar no mistério
me afogar num lago seco:
narciso bebeu sua própria
imagem
e todos eles – que dizem ser
mas gritam debaixo
da lápide –
quebraram todos os espelhos
não querem que eu me veja
querem que minha imagem
adormeça dentro
da gaveta
fria e gélida eu não posso mais
ser um cadáver habitando
o mundo não suporta a porta
fechada
e o dedo em riste a pedra
lançada e o nó desfeito
a saia levantada revelando nada
além do enigma
: um poema que começa
mas não finda
la vie est
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