domingo, 12 de fevereiro de 2017

Poema T

Foto: Hélio Beltrânio

quero descobrir o mundo
como a mão trêmula descobre o vazio
entre as pernas virginais não encontro a resposta
nem homem nem mulher
eu sou deus destronado no mundo e entronizado
num corpo marcado borrado e barrado
quando poderei ser além do véu que esconde
minha nudez está aqui
: reinar sobre mim
mas não preciso que estejas aos meus pés
só precisas me deixar respingar minha existência
no mundo meus passos pesam
minha existência ameaça a frágil fortaleza
onde o outro se esconde
não some com o meu nome
não me consome no fio da navalha
não me amassa como uma folha rasurada
a palavra nasceu no meio do vazio
das minhas pernas não pende nenhuma âncora
eu sou livre para navegar
não preciso remar afoita
posso me inebriar no mistério
me afogar num lago seco:
narciso bebeu sua própria imagem
e todos eles – que dizem ser mas gritam debaixo
da lápide –
quebraram todos os espelhos
não querem que eu me veja
querem que minha imagem adormeça dentro
da gaveta
fria e gélida eu não posso mais
ser um cadáver habitando
o mundo não suporta a porta fechada
e o dedo em riste a pedra lançada e o nó desfeito
a saia levantada revelando nada além do enigma
: um poema que começa
mas não finda
la vie est  

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