estou
dentro de um quarto escuro. não sou homem nem mulher nem tenho sexo. há um
quarto escuro dentro de mim. não há paredes. o vazio vazou através das
rachaduras. a estrutura cedeu. mas eu não cedi. permaneço imóvel no modo
repeat. escrevo e falo sempre das mesmas memórias e das feridas que se cansaram
dos meus dedos que não sabem se querem curar ou abrir ainda mais as feridas. há
folhas suficientes para conter o nosso sangramento? “você parece profundo”,
alguém me diz. não é uma piada, mas poderia ser. tenho medo que minha alma
seque e todas as vezes que senti a sequidão se aproximar, cavei mais fundo um
poço à procura de mais alma, de mais água, de mais vida. não foi um jogo. ninguém
ganhou. ninguém perdeu. nós nos perdemos. e emudeço para não escrever o que já
foi escrito. para não parecer em vão. para não cair no vão que separa minha
boca dos teus ouvidos. o imenso vão que separa meus dedos dos teus olhos.
dilate-os para comer minha carne imolada aqui: em cada palavra. procuro uma
sede que se sacie em mim.
Poema em prosa!!! Maravilhoso!!! Trabalho lindo!!!
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