domingo, 21 de agosto de 2016

Domingos


estou sempre caminhando na escuridão
tateando com as mãos fatigadas
só procuro porque sei que não irei encontrar
você não consegue apagar a luz
do abajur desalinhado tentando intimidar
meu descompasso: meu passo preso
nesse domingo: limbo interminável e
uma sede ancestral recaiu sobre mim
seu corpo se confunde com a garrafa de vinho
(sobre a mesa sobre a cama a brancura virginal dos lençóis
cavalgando sem perceber a noite
engolindo nossos gritos com suas pernas:
quem gozar primeiro ganha esse jogo sujo?)
ambos me embriagam, mas apenas um
fode a minha alma e
você está selado velado trancafiado
como eu posso ficar bêbado apenas com
um gole? meus dedos se arrastam
pelas tuas costas assim como os teus
acariciam com devoção a garrafa de vinho
antes de abri-la me abro e escuto
o silêncio de todas as bocas mudas que um dia
me beijaram famintas arrancando
palavra por palavra até eu também emudecer
e
esquecer como se diz que apesar
de tanto beber a sede não passou
enquanto o outro já está exausto como se
tivesse corrido em todas as maratonas
e apesar de todos os esforços
nunca
conseguisse atravessar a linha de chegada
você nunca vai alcançar a minha alma
mergulhar na minha lama se limpar inteiro
na minha sujeira cicatrizando meu passado,
but
nada tem passado tudo tem ficado sobre
meus ombros como um elefante monta
sobre um hamster correndo para chegar
a lugar nenhum
dentro da gaiola dentro da roda
como um pecador esquece
sua humanidade e todos os seus pecados
que padre nenhum é capaz
de absolver

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