domingo, 16 de outubro de 2016

Insolação


hoje atravessei a cidade inteira
minha pele quase se desintegrou embaixo
do sol
não há mentiras que fiquem escondidas nem sombras
onde eu possa (me) esconder
teu olho descansa aqui onde a memória
ainda não existe mas a saudade queima
como uma insolação aos cinco anos
numa praia esqueci de me proteger
a dor costurou em mim o medo
mas eu ainda quero me queimar
debaixo das tuas retinas tão límpidas
esqueço quem sou até ser de novo
uma criança de cinco anos construindo
castelos-de-areia só pra destruir
depois
ir chorando enraivecido para um colo
onde o destino não aconteceu e
o teu sim colidiu com o meu quando
o sinal ainda estava vermelho
vou enxugar minha alma
na tua pele afundarei todos os meus barcos
porque não há mais onde
chegar

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