Quero
ler a poesia que corre pelas tuas veias e rasga as artérias do teu coração. O
amor ainda sobrevive embaixo dos escombros. É tão pesado depois que você vai
embora e ainda deixa a porta aberta e as janelas escancaradas sem cortinas nem
persianas. O vento que adentra o espaço vazio atravessa minhas costelas. Quando
você volta? Quando eu volto? Estou desabitado. Meu corpo é cova, sepultura
aberta, sem flores. Você ainda consegue respirar? Eu fumei uns sete cigarros e
meus pulmões se comprimem. Era mais confortável respirar com minha boca na tua.
Ainda sinto o gosto amargo. Parece que bebi por dias a fio e estou numa ressaca
interminável. Por que eu continuo escrevendo se até as palavras estão
abandonando meu corpo? Solidão é sina? Recito uns dois poemas que escrevi há um
ano atrás. Foi pra você que nem tem mais nome na minha boca. Escrever é se
automutilar. Toco a ferida insistentemente, mas não dói. Escrevo, mas ainda não
me sinto vivo. As palavras chegam no papel como um eco. Escrevo a sete palmos.
Escrevo tentando voltar de onde nem sei que parti. A memória fica fragmentada
como a alma - quando o amor morre. Não tenho mais pedaços para juntar. Quem vai
chover sobre meu deserto? Quem vai secar a chuva quando ela vier? Você vai
deixar eu me afogar. Eu sei que vai. Eu quero me afogar. Sem possibilidade de
salvação.
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