segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Vazio


como se pudesse antecipar meu próprio parto
abro uma fenda com os dedos tensos de medo
o vazio ocupou todo o espaço do meu corpo
estou com um nó na garganta e
alguns dedos de dilatação
nada transborda
um mar inteiro represado em mim
mas continuo tentando me livrar do útero
e dos braços do passado tentando
me segurar aqui onde as feridas não
se curam nem cicatrizam
o vazio está tão denso que até posso
senti-lo na garganta talvez
eu tenha que vomitá-lo entre minhas pernas
você nasceu para o mundo
mas morreu em mim o amor descansa
não posso deixá-lo morrer agora
sinto que vou rasgar minha garganta
de dentro para fora no fundo da ferida
há uma palavra que eu não consigo ler

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