sábado, 10 de setembro de 2016

Há amor em São Paulo?

Foto: Jonas Oliveira

disposto e exposto: rasgo minha garganta
dedilha minhas cordas vocais
componha em mim mais uma melodia
para que se alcance todos os vãos
entre trens-e-plataformas o amor
suporta quietinho num canto assustado
uma banda toca sobre todas as portas
abrindo e fechando depois do sinal
você pode se ferir você pode cair
deus queira que você caia só uma vez
mas pode tocar através de mim
para que a tua melodia rasgue as cortinas
invisíveis e estendidas no ar protegendo
nossas faces nossos olhos tímidos
e todos os abismos sejam penetrados com
o teu som arde em meus ouvidos
sou o primeiro a ouvi-lo
: uma mãe emocionada que acaba de ouvir
o primeiro choro de seu bebê
sou o útero onde fecundas a tua existência
canalizo todas as dores que sentes
dói em mim dores jamais doídas
não há parto sem dor não há beleza
não há o que nasça sem antes ter sido
atravessado pelos dedos e pelas unhas
da vida: esse deus que não recebe incenso
nem oferendas
mas nos rasga nos expõe para o mundo nos livra
até o último trem partir e a estação fechar
o nosso som se calar e mudos possamos
compor uma melodia para que o amor
em nossos peitos volte
a amar

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