terça-feira, 27 de setembro de 2016

Origami

Foto: Ryan Michael Kelly

poderia dizer que meu destino se cruzou
com o teu, baby
mas eu estou sempre com essa sensação
vertiginosa de que vou cair
e caio
sempre no lugar errado bati tambores
depois de quebrar as cordas do violão
esfolando meus pés no chão de tanto dançar
as danças proibidas para tentar
prender você em mim
o sexo machucado escondido
entre as mãos hesitantes querendo
esconder a vergonha de estar só
ferida e sangrenta solidão exposta
recaída sobre a cama violentada
me dobro e me desdobro e me dobro
duzentas e trinta e oito vezes
sobre os teus braços pareço um origami
retorcida a ponto de sentir meus ossos
rangendo como as portas velhas da casa de vovó
se abrindo e se fechando e dando acesso e
expulsando para fora de si a escuridão e mofo
você diz que não suporta o meu cheiro
enquanto eu acolho o teu fedor
na minha pele cicatrizes queimam
“o passado não se afoga
num copo de vodka” você diz lentamente
enquanto tenta se livrar com força
das minhas mãos escorrem a ausência
de todos os corpos um dia esmagados
pelo peso da minha alma
esfomeada
agora devastada
por não ter onde
se alimentar

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