Parece
que estamos – todos – em carne viva. Pulsamos desesperadamente, sangramos com a
força de uma hemorragia interna, queimamos como uma criança com uma febre de
trinta-e-tantos-graus sem que se ache a causa da doença. Sim, nós estamos em
carne viva. Estamos doentes. E deus nos livre de nos curarmos agora. Todos nós
e até os laços desfeitos. Um olhar atravessado nos atravessa até as vísceras.
Uma palavra não dita fere nossos ouvidos. Uma palavra espinhosa nos estoura os
tímpanos. Queremos escutar melhor ao mesmo tempo em que queremos ser surdos pra
não ouvir tanto. Queremos ver com a sensibilidade de quem rumina os detalhes de
todas as coisas e, quando conseguimos ver, desejamos a cegueira. Porque ver
demais arde os olhos. Um ferro em brasa penetrando nossas carnes e chegando ao
fundo. Marcando-me. Marcando-nos. E
vivemos tentando remediar, remendar os trapos, reconstruir os pedaços e
abafando a febre embaixo de compressas com água quente e nos cobrindo de pele e
de mentiras, porque a verdade não encontra descanso em qualquer ouvido e o céu
sente o peso das nossas cabeças. Estamos cansados.
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