segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Abominação

Foto: Hélio Beltrânio

quanto eu tenho que pagar pra ser quem sou?
me monto com as palavras datilografadas
na máquina velha de escrever
passo rímel e delineador escondendo a lágrima que nunca
escorreu quando a mão se ergueu
sobre mim secou o grito de todas as vidas
envenenadas esmigalhadas esquecidas
não tenho coroa de flores nem de espinhos
estou coroado pelo mundo como a pior
abominação o pecado que o padre
não quer absorver e eu pecador não quero
esquecer o pecado de ser livre
me dispo do meu nome onde você me põe
um rótulo
escondo bem mas muito bem escondido
o meu sexo entre as pernas
não sou homem não sou mulher eu não
sou e sou agora porque não caibo
dentro do confessionário
mas confesso que fui expulsa do paraíso
com eva e a serpente rastejando entre
nossos pés adão me leva para onde
a ferida ainda não cicatrizou
o pecado que ninguém perdoou
humanidade que não se cura não se lava
mas suja a minha existência corrompe
a minha dignidade por ver em mim
um eu que reinou

Nenhum comentário:

Postar um comentário