sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Excremento humano?

Foto: Hélio Beltrânio

eu quero transcender o papel
acender o fogo sem me queimar
para quê? me responda sem abrir a boca
abrir minhas pernas sobre a brancura
da folha parir o que sou sem cortar
o cordão umbilical que nos une
humano
divino
dilúvio
a arca sem noé
profano
santo
sem altar sem velas
anjos sem asas
caídos infernos desabitados
sagrado
abençoado
amaldiçoado
o paraíso não me quer
puro
puto
pecado
veneno
remédio
o verbo amassado
no chão no lixo na sarjeta
o córrego as fezes as sobras
e as sombras dos transeuntes
passando pesando pisando
sobre mim sobre ti sobre nós
marginalizados
atados ao corpo morno
coberto de vômito
a ânsia o desejo a fome
os olhos caindo das faces
quase alguém me vê
quase
quase
quase sou humano de novo
eu queria caber no útero
de tudo refazer o mundo
porão escuro
mofo
prisão sem grades
a vida que se parte
em cada esquina eu me dobro
em sete dias talvez eu volte
outra vez 

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