terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Vinte anos depois

Foto: Hélio Beltrânio

eu não sei qual é a sensação de entrar no mar eu gostaria de saber o que eu senti quando eu tinha apenas cinco anos e pela primeira e única vez entrei no mar o mar talvez tenha entrado em mim com tanta força que doeu o mar deve ter doído em mim e entrado e saído com tanta força com tanta fúria com tanta sede de conhecer a imensidão do meu vazio salgando limpando lavando o cheiro o aroma o gosto na boca na pele queimada algumas bolhas d’água o mar entrou em mim o mar me desvirginou o mar invadiu a areia da minha segurança eu criança longe do porto o parto das águas o retorno o regresso esse é o ponto onde uma epifania ascende em minha memória a única lembrança que tenho do mar são as bolhas em minha pele branca uma eclosão uma erupção o mar entrou o mar saiu nem bateu na porta varreu tudo em volta ninguém conseguiu conter as ondas do mar entrando dentro fundo o mar invadindo tudo menino não sabe mais ficar na areia sem destruir castelos o mar continua entrando em mim mas não tenho bolhas para contar histórias furadas todas bolhas mas o mar não saiu de mim


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